Câncer de cabeça e pescoço é um conjunto de tumores malignos que surgem nas regiões superiores do sistema respiratório e digestivo. Isso inclui boca, laringe, faringe, cavidade nasal, seios da face, tireoide e até glândulas salivares. Ainda que seja um tipo de câncer com possibilidades de cura, especialmente se diagnosticado nos estágios iniciais, ele costuma se desenvolver de forma silenciosa.
Esse tipo representa um número expressivo dos casos de câncer diagnosticados anualmente no Brasil, afetando principalmente homens acima dos 40 anos. A boa notícia é que muitos dos fatores de risco são evitáveis — o que torna a prevenção uma ferramenta poderosa.
Como o câncer de cabeça e pescoço se manifesta?
Nos estágios iniciais, esse tipo de câncer costuma ser discreto, o que pode atrasar o diagnóstico. No entanto, à medida que a doença progride, o corpo começa a emitir sinais que não devem ser ignorados. Feridas na boca que não cicatrizam, alteração persistente na voz ou sensação de obstrução na garganta são os principais.
Outros sintomas que podem surgir incluem:
Presença de nódulo no pescoço que não desaparece
Dor ao engolir ou sensação constante de incômodo ao engolir alimentos
Rouquidão prolongada sem causa respiratória aparente
Dificuldade para respirar ou sensação de falta de ar
Dor no ouvido ou diminuição da audição sem infecção identificada
Manchas avermelhadas ou esbranquiçadas na mucosa bucal
Sangramento nasal frequente, principalmente ao acordar
Esses sinais, muitas vezes confundidos com problemas menos graves, exigem atenção médica para avaliação, principalmente se persistirem por mais de duas semanas.
Fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença
Grande parte dos casos de câncer de cabeça e pescoço está relacionada a comportamentos de risco. O tabagismo é um dos maiores vilões nesse cenário. Fumar aumenta significativamente a chance de alterações celulares nas regiões da garganta, boca e laringe, além de comprometer o sistema imunológico, dificultando a defesa natural do corpo contra o desenvolvimento de tumores.
O consumo frequente e excessivo de bebidas alcoólicas também está diretamente ligado ao surgimento desses cânceres, especialmente quando combinado com o uso de cigarro. Outro fator importante e cada vez mais observado é a infecção por HPV (papilomavírus humano), um vírus sexualmente transmissível que pode afetar a cavidade oral e a garganta, provocando o surgimento de lesões que evoluem para câncer, especialmente na orofaringe.
Além disso, a higiene bucal precária e a ausência de visitas regulares ao dentista contribuem para a inflamação crônica da mucosa oral, que, ao longo do tempo, pode favorecer alterações malignas. Também se destaca o uso de cigarros eletrônicos e dispositivos como vapes, que liberam substâncias químicas prejudiciais à mucosa respiratória. Pessoas com histórico familiar de câncer na região da cabeça e pescoço também devem manter vigilância constante.
Diagnóstico: como identificar a doença com precisão
A detecção do câncer de cabeça e pescoço envolve uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem. Tudo começa com uma avaliação detalhada, feita por um especialista, geralmente quando o paciente relata sintomas persistentes ou apresenta lesões suspeitas. Dependendo da região afetada, o médico pode utilizar equipamentos como endoscópios flexíveis para examinar a garganta e o interior do nariz e da boca.
Para confirmar o diagnóstico, exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética ou PET-CT ajudam a identificar a localização exata do tumor e se houve disseminação para outros tecidos. No entanto, o exame decisivo é a biópsia — que consiste na retirada de uma pequena amostra da lesão para análise microscópica. A partir daí, é possível definir o tipo de tumor e seu grau de agressividade.
Quanto mais cedo essa investigação for feita, maiores são as chances de sucesso no tratamento. Por isso, qualquer anormalidade persistente na boca, pescoço ou garganta merece atenção especializada.
Tratamento do câncer de cabeça e pescoço: o que esperar após o diagnóstico?
O tratamento é definido com base em diversos fatores, como o tipo e estágio do tumor, idade do paciente e seu estado geral de saúde. Em muitos casos, as abordagens são combinadas para garantir maior eficácia. A seguir, as principais formas de tratamento:
Cirurgia: remove o tumor e, se necessário, parte dos tecidos ao redor. Em alguns casos, pode ser necessário fazer reconstruções na área afetada e acompanhamento com fonoaudiólogo para reabilitação da fala e da deglutição.
Radioterapia: utiliza radiação de alta energia para destruir as células cancerígenas. É bastante comum após cirurgias ou quando a remoção total do tumor não é possível.
Quimioterapia: envolve o uso de medicamentos para combater o câncer, geralmente administrados por via intravenosa. Pode ser usada antes da cirurgia (neoadjuvante), após (adjuvante) ou em combinação com a radioterapia.
Terapia-alvo e imunoterapia: em alguns casos mais avançados, medicamentos específicos que agem diretamente nas células tumorais podem ser recomendados, além de terapias que estimulam o sistema imunológico a combater o câncer.
Cuidados multidisciplinares: o suporte de profissionais como nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos é essencial para ajudar na recuperação e manter a qualidade de vida durante o tratamento.
O papel da prevenção no combate ao câncer de cabeça e pescoço
A boa notícia é que boa parte dos casos desse tipo de câncer pode ser prevenida com atitudes relativamente simples. Deixar de fumar é, sem dúvida, a principal medida preventiva. Evitar o consumo abusivo de álcool também reduz consideravelmente o risco. Manter uma rotina de higiene bucal adequada e visitar o dentista com frequência são cuidados muitas vezes subestimados, mas que têm impacto direto na prevenção.
Outro ponto essencial é a vacinação contra o HPV. Disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninos e meninas entre 9 e 14 anos, a vacina é altamente eficaz na prevenção de infecções por esse vírus, que está por trás de muitos tumores orofaríngeos. O uso de preservativo, inclusive nas relações sexuais orais, também contribui para reduzir a exposição ao HPV.
Atenção a sinais persistentes, hábitos saudáveis e informação de qualidade são os maiores aliados na luta contra essa doença. Quanto mais cedo houver conscientização, maiores são as chances de evitar o desenvolvimento do câncer ou de identificá-lo ainda em estágio inicial.
A importância do acompanhamento médico e da informação
Viver com saúde é também estar atento aos sinais que o corpo envia. No caso do câncer de cabeça e pescoço, essa atenção deve ser redobrada, principalmente entre pessoas com fatores de risco. O acompanhamento médico, os exames regulares e os hábitos saudáveis formam a base para uma vida mais longa e com qualidade.
Informar-se é parte essencial desse cuidado. Estar ciente dos riscos, das formas de prevenção e dos sintomas ajuda a tomar decisões mais conscientes e a buscar ajuda médica no momento certo. Não se trata apenas de tratar o câncer, mas de impedir que ele surja. E isso começa com atitudes simples, tomadas no dia a dia.
Fontes:
INCA;
Ministério da Saúde;
Hospital Albert Einstein;
Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.