O câncer é hoje um dos maiores desafios de saúde pública no mundo. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que 704 mil novos casos da doença surjam por ano entre 2023 e 2025. Diante desse cenário, o debate sobre o futuro da jornada oncológica ganhou força, evidenciando a necessidade de integrar inovação tecnológica, novas políticas de acesso e humanização do cuidado para garantir melhores resultados para os pacientes.
Mais do que tratamentos, a jornada oncológica exige um sistema robusto de diagnóstico precoce, atenção integral e soluções que tornem terapias avançadas — como a imunoterapia e a medicina de precisão — acessíveis de forma equitativa na rede pública e privada.
O que é jornada oncológica?
A jornada oncológica é o percurso que o paciente faz desde a suspeita do câncer, passando pelo diagnóstico, tratamento e acompanhamento contínuo. É um processo multidisciplinar que envolve médicos, enfermeiros, psicólogos, farmacêuticos e outros profissionais de saúde.
Tradicionalmente, essa jornada é marcada por desafios como diagnósticos tardios, dificuldade de acesso a terapias inovadoras, desigualdades regionais e demora na aprovação regulatória de novos medicamentos.
Desafios da jornada oncológica no Brasil
Dados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica mostram que cerca de 60% dos diagnósticos de câncer no país ocorrem em estágio avançado. Isso reduz as chances de cura e eleva os custos do tratamento.
Outros pontos críticos incluem:
Acesso desigual a terapias inovadoras: Enquanto tratamentos como terapias-alvo e imunoterapia já são padrão em centros privados de referência, o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para incorporar rapidamente essas tecnologias.
Burocracia regulatória: O processo de avaliação de novos medicamentos pode levar anos entre aprovação pela ANVISA e inclusão no rol do SUS ou planos de saúde.
Falta de infraestrutura: Em muitas regiões, faltam equipamentos de radioterapia, unidades de oncologia clínica e profissionais capacitados.
Caminhos para o futuro: inovação e acesso ampliado
Inovação tecnológica e medicina personalizada
Nos últimos anos, avanços na biotecnologia permitiram o desenvolvimento de medicamentos de precisão, que atacam mutações genéticas específicas do tumor. Exemplos incluem:
Terapias-alvo: drogas que bloqueiam proteínas essenciais para a proliferação de células cancerígenas.
Imunoterapia: que estimula o sistema imunológico do paciente a reconhecer e destruir o tumor.
Esses tratamentos já transformaram o prognóstico de diversos tipos de câncer, como melanoma e câncer de pulmão não pequenas células. No entanto, o custo elevado e a complexidade de acesso seguem sendo gargalos.
Parcerias público-privadas
Para superar barreiras de acesso, iniciativas como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS) — que envolve hospitais de excelência, como o Hospital Israelita Albert Einstein — estão sendo ampliadas.
Essas parcerias visam:
Melhorar protocolos de diagnóstico precoce;
Capacitar equipes de saúde;
Discutir a incorporação regulatória de novas terapias;
Desenvolver modelos de cuidado baseados em valor, focados em desfechos clínicos.
Políticas de saúde e equidade
Garantir acesso equitativo passa por fortalecer políticas públicas. Recentemente, movimentos como o Todos Juntos Contra o Câncer têm pressionado o poder público por mais recursos, agilidade na avaliação de novas drogas e ampliação da infraestrutura oncológica.
Além disso, a nova Lei 14.307/2022, que garante prazos máximos para início de tratamento oncológico no SUS, representa um avanço importante — ainda que o cumprimento pleno seja um desafio logístico em várias regiões.
Humanização do cuidado: pilar essencial
Não basta investir apenas em tecnologia. A jornada do paciente oncológico é emocionalmente complexa, exigindo acolhimento, apoio psicológico e comunicação empática.
Programas de navegação de pacientes — nos quais um profissional de saúde acompanha todo o percurso, esclarecendo dúvidas e orientando familiares — vêm mostrando resultados positivos em diversas instituições, reduzindo desistências e otimizando o uso de recursos.
Sustentabilidade financeira: como viabilizar o acesso?
A incorporação de terapias avançadas pressiona o orçamento público e dos planos de saúde. Discussões sobre modelos de pagamento por performance (ou seja, pagar por resultados clínicos) ganham espaço para garantir sustentabilidade do sistema.
Outra frente importante é a negociação de preços com farmacêuticas, através de acordos de risco compartilhado, que permitem viabilizar a oferta de medicamentos inovadores no SUS.
O papel da sociedade e dos pacientes
Organizações de pacientes têm sido fundamentais para pautar políticas de saúde e pressionar por melhorias na jornada oncológica. Movimentos de advocacy, campanhas de conscientização e participação em audiências públicas são cada vez mais frequentes — ajudando a colocar o câncer como prioridade na agenda pública.
Conclusão
O futuro da jornada oncológica no Brasil passa por um tripé fundamental: inovação tecnológica, políticas públicas robustas e humanização do cuidado. O desafio é grande — mas o caminho é promissor, com iniciativas cada vez mais integradas entre governo, hospitais, indústria farmacêutica, organizações civis e profissionais de saúde.
Garantir o acesso equitativo a terapias avançadas não é apenas uma questão técnica: é um compromisso ético com a vida de milhares de brasileiros que enfrentam o câncer todos os anos.
Fontes:
INCA;
SBOC;
Futuro da Saúde;
Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.